quarta-feira, maio 31, 2006

Um filme

Two days

Comic drama


Diretor: Sean McGinly

USA, 2003





E por enquanto não se fala mais nisso.

Flavit, hoje é seu aniversário e eu não esqueci! Tudo de bom aqui na terrinha ou onde quer que seja! E vamos combinar aquela visita ao kibutz, viu?! Muitos beijos.

terça-feira, maio 30, 2006

Pomba-gira

Se quem diz que dá sorte tem razão, vou ter muita... Ao entrar no meu quarto, agorinha, desejando minha cama e algumas horas vespertinas de sono com ruído e luzes, uma surpresa atrás da outra. Primeiro o esvoaçar nervoso de uma pomba, que bateu oito vezes a cabeça contra a janela tentando sair. Depois, a briga para fazer com que ela deixasse meu quarto - vassoura, janela escancarada (entrar pela frestra ela entrou, filha-da-puta...), gritos de "vai!" Depois, finalmente, as marcas que ela deixou (sim, ela cagou, e não foi uma só vez) 1. no meu travesseiro, 2. no meu cobertor, 3. no chão do quarto, 4. no criado-mudo a um centímetro do rádio-relógio, 5. no lençol recém-trocado. Por enquanto foi onde eu achei "marcas". E agora esse cheiro azedo de merda de pássaro...

Vai ter sorte assim na puta-que-o-pariu. Até perdi o sono!

Nunca seré viejo

Amo Gabriel García Márquez, o Gabo, e descobri hoje, por causa dele, que nunca serei velho, na releitura, no original em espanhol de El amor en los tiempos del cólera. Divido.
Mucho tiempo atrás, en una playa solitaria de Haití donde ambos yacían desnudos después del amor, Jeremiah de Saint-Amour había suspirado de pronto: "Nunca seré viejo". Ella lo interpretó como un propósito heroico de luchar sin cuartel contra los estragos del tiempo, pero él fue más explícito: tenía la determinación irrevocable de quitarse la vida a los sesenta años.

Gosto da cena não apenas pelo tom da revelação escancarada, mas por ela invocar de forma tão bela o momento após o amor. Fico imaginando os dois deitados nus, na praia, olhando as gaivotas sobrevoando o mar, e ele contando com uma voz serena e tranqüila que não será velho. E aí, ainda olhando pro céu, ela deixa escorrer uma lágrima solitária pelo canto do olho, sem nem se importar em esconder. Não diz nada. Não dizem nada.

domingo, maio 28, 2006

הנה אני בא

O título deste post, Ine ani ba, é o nome da canção do Hadag Nachash que virou modinha por aqui e levou a galera ao delírio no Yom haStudentim de Jerusalém, onde eu gravei esse trechinho. Outro dia a Nathalia fez uma tradução livre da canção no blog dela, que explica a idéia. Quem quiser a canção completa, em hebraico, pode pegar aqui.

sexta-feira, maio 26, 2006

Paternidade

Tava jogando sinuca/ Uma nega maluca/ Me apareceu/
Vinha c'um filho no colo/ E dizia pro povo/ Que o filho era meu...



Juro que eu não sou o pai. Mas resolvi acompanhar uma amiga minha, argentina, para fazer o último ultrassom antes do parto, marcado para julho. Depois de quase uma hora na sala de espera da clínica do Macabi (o plano de saúde dela), entramos. Fiquei sem jeito, mas ela me convidou a entrar e assim eu fiz. E vi um bebê na tela superpequena daquele aparelho que certamente já existia quando o feto era eu. Mais emocionante do que a criança, que vai ser menino, foi ver a cara da mãe, entorpecida pela imagem do filho que ela gera e carrega.

Deu vontade de ser pai, até.

Overdose

Responda rápido: red bull e café reforçado juntos fazem mal? Não estou conseguindo ficar acordado sem essa combinação.

Pra falar a verdade, com ela tampouco.

Quero minha cama.

quinta-feira, maio 25, 2006

Coisa de americano

Hoje é dia de Jerusalém (como eu contei no 23a idade, embora mal dê pra entender!) e aqui no trabalho o CEO ou alguém muito próximo dele fez um discurso cheio de blá-blá-blá. Querem aumentar o número de pessoas no night shift, elogiaram nossos números, gritaram palavras de ordem como "night shift rocks"... Coisa de americano! Depois, distribuíram picolés, bandeiras de Jerusalém e um telefonezinho amarelo de borracha (dessas para apertar, anti-stress) com a marca da empresa... Cheguei atrasado hoje, porque a cidade está uma zona, e no caminho pude ver as muralhas da Cidade Velha iluminadas com as cores dos fogos de artifício comemorando os 39 anos desde a reunificação de Jerusalém. Vou contar mais no 23a.

Já perdi a conta e não sei em que lugar do mundo você está, se no Rio ou em algum país da Ásia ou da Europa. Pena que não está em Jerusalém para comemorarmos juntos esse seu último aniversário de solteiro, Marcus. Mas eu não esqueci! Então um yom huledet sameach e saudade, irmão. And today another very good friend of mine, from Canada, is becoming older - Josh, dude, very happy birthday for you!

segunda-feira, maio 22, 2006

Momento foda-se

De vez em quando é bom mandar tudo meio que às favas. E eu tinha até me esquecido do prazer que existe em apreciar um charuto, como na época em que trabalhava em uma revista sobre o assunto. Comprei um isqueiro fresco ontem, e hoje acendi um dominicano que encontrei num supermercado, gostinho de chocolate. Ver a fumaça e não pensar na vida, pelo tempo que dura um charuto.

Definindo...

Sou mesmo desses que guardam velharia, fazer o quê? Mas está lá, na coluna da direita da página 302, que inclui as definições amareladas de "mal" a "malhada", do meu Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa, incrível 1a edição, mas 13a impressão, e em cuja capa está colada uma etiqueta na qual aparece, na letra da minha mãe, meu nome e "6a série B" (isso foi 1991, século passado!):

mal-entendido sm. Equívoco, desentendimento.

Já diria o Djavan, mas eu dou uma mudada: "insisto em zero e zero e quer um a um"...

domingo, maio 21, 2006

Votação e premiação!

Vou mudar um pouquinho a cara do 23a idade, de acordo com o resultado da primeira enquete que rolou por lá! Vou colocar um header (ou banner!) no alto do blog e tenho duas versões. Como gostei das duas e sou indeciso por natureza, coloco em votação: qual deles, o preto ou o branco? Palpites nos comentários, lá no blog. O escolhido vai aparecer no topo do blog logo depois da votação, que se encerra no domingo que vem! As pessoas que votarem no header campeão vão ganhar um cartão postal especial de Israel! E o primeiro a votar vai receber com o postal uma outra surpresa!

(Só valem comentários no 23a idade!)

Telemarketing-terror

- Boa tarde, aqui é o Ben, estou ligando para fazer uma pesquisa sobre seus diretórios telefônicos. O negócio é o seguinte: tenho seu telefone e sei onde você mora. Vai responder a pesquisa agora ou quer que eu tome alguma atitude mais drástica?

(Ah, como dá vontade, numa noite péssima como esta...)

Meus problemas estão resolvidos...


Claro, era tudo que eu precisava agora...!

sexta-feira, maio 19, 2006

Cada uma...

I'm here, but I'm not here, leave your message!

Crise palestina (RFI)

Falei hoje na RFI a respeito da crise entre os palestinos por conta da criação de uma nova força de segurança. Para ler a respeito e ouvir minha entrada, clique aqui.

[MAIS]
Todas as minhas entradas na RFI aqui.

quinta-feira, maio 18, 2006

Alertas

Mensagens no meu celular, todas hoje...

12:09, Police in Jerusalem move to high alert in light of terror warning
14:23, Terror alert in Jerusalem lowered
15:22, Jerusalem terror alert resumed once again
E quando eu saí de casa, havia policiais por toda a cidade, sirenes e luzes azuis e vermelhas, soldados, aquela bagunça. Mas ninguém se explodiu, ninguém explodiu nenhum ônibus, ninguém matou nenhum policial, e as pessoas estavam normalmente passeando pelas ruas, comendo em restaurantes e vivendo normalmente...

Ordem no galinheiro

Já que a primavera chegou - e chegou mesmo, de vez - é hora de tirar do armário aquelas roupas pesadas e quentes de inverno, e colocá-las em malas para voltar a vê-las só no final do ano. E, aproveitando a deixa, hora de dar uma ordem no quarto, no armário (de repente ficou tudo tão espaçoso!) e de lavar a roupa acumulada - minha máquina de lavar é pequena, mas estou achando que sete levas foi um pouquinho demais...!

Adoro esse negócio de as estações terem começo e fim por aqui!

Tem foto nova no flog, do meu irmão comigo no churrasco de independência.

Você nem deve ler esse blog, mas mesmo assim, não me esqueci de você nesse 18 de maio, ! Feliz aniversário a você, nessa data querida. Muitas felicidades - e que da próxima vez a gente se cruze, nem que seja pelos Santos! Te amo, santista.

quarta-feira, maio 17, 2006

Notícias do front!

A foto veio pelo celular - bendita tecnologia! E hoje o Bean, meu shutaf, me ligou para contar como estão as coisas lá na Tzavá. A ênfase dele foi no "tá doendo tudo", seguido de uma longa lista com cada parte do corpo!! É, o esquema lá não é brinquedo, não! Acordam às 5h30 da manhã, correria... Ele volta no próximo fim de semana, e aí vai postar lá no blog dele pra contar tudo... [UPDATE] Um audiopost do Carlinhos lá da base.

E hoje, só, recebi minha carta de dispensa...!

E rola a bola

Israel, que é perna-de-pau no futebol, ganhou dos nossos colonizadores, por um a zero, "na primeira jornada do Grupo 5 de apuramento para o Campeonato Europeu de Sub-19" (seja lá o que esse amontoado de letras e números queira dizer). Como Israel, sou perna-de-pau no futebol, e não entendo patavinas do esporte - só sei quando é gol porque a rede balança e a galera pula...! Mas vale notar (e eu notei!) que se trata do campeonato europeu, do qual Israel participa. Deveria ser de algum campeonato dessas bandas, mas motivos que fogem do âmbito esportivo impedem que israelenses e árabes dividam o campo...

E já que de esporte falo, faz-se necessário registrar que amanhã o Boca Juniors e o Macabi Tel Aviv vão se enfrentar num amistoso por aqui. O time argentino já está em Israel para a partida, que vai com certeza levar muito porteño para o estádio Bloomfield, em Tel Aviv. A comunidade argentina daqui tem lá seus 80 mil indivíduos... E o jogo vai ser em comemoração ao centésimo aniversário do time israelense. A arrecadação vai ser doada para bolsas para a Ben Gurion University, lá no Negev, onde estive na semana passada.

Click

Tem foto nova no flog, da feijoada do último sábado! Aliás, do mesmo dia, no flog da Liat, essa foto! Reparem na minha camiseta - irmão orgulhoso é assim mesmo!

Arte sem público não é arte

Você precisa me ajudar a ver essa obra de arte completa! Vi no Brainstorm#9, que sempre leio. O conceito que está por trás dessa campanha do Masp, em Sampa, é o de que a arte só existe se houver gente para ver. Então, entra lá e veja você também.

E falando em propaganda, só pra não deixar esse post muito pequenininho, espiem esse vídeo da Adidas para promover uma nova marca de tênis, "o primeiro tênis inteligente do mundo". Vale a pena, é sensacional. Do B#9, também.

terça-feira, maio 16, 2006

Quando elas querem...

Papo em hebraico, hoje de manhã, antes de vir pra casa, lá no trabalho, enquanto eu arrumo minhas coisas para me mandar:

- Quero aprender francês e árabe, ainda!
- Árabe? Para quê? Eu gosto de francês...
- É... Eu acho o francês romântico.
- Francês é romântico e espanhol é sexy [olhar 43 nesse momento]
- Boa definição [a arte de se fazer de bobo!]

Pioneirismo no século 21

Escrevi uma matéria, que vai ser publicada na próxima edição da Revista 18, em São Paulo, sobre vilas estudantis que estão sendo construídas em locais distantes dos centros em Israel, como o deserto do Negev e o Galil, no norte. Visitei duas dessas comunidades no Negev na semana passada e conversei com alguns dos estudantes que saíram de cidades como Tel Aviv e Jerusalém para viver no meio do deserto. É o pioneirismo do início do Estado de Israel em pleno século 21.

Para ler mais a respeito, aqui. Para ver minha sombra estampada na areia do deserto, perto de Dimona, aqui. Se quiser ver outras fotos que eu fiz por lá, aqui. E se quer ler a matéria da Revista 18, tem que esperar até sair (não sei bem quando, mas aqui dá pra saber).

Breno, diz alguma coisa!

Esse pequeno já tem quatro anos e meio, fala hebraico pelos cotovelos e até me corrige quando cometo algum erro. Mas quando se trata de abrir a boca para falar em português, é um poço de vergonha! Esse vídeo eu gravei no ano passado. Fica pela diversão!

segunda-feira, maio 15, 2006

O rodízio foi suspenso

Notícias de terras brasilis. Vejo pela CNN, porque aqui não tem Globo, só novelas, que São Paulo está um caos. Caos bem maior do que aquele provocado pelo trânsito de todas as manhãs e todas as tardes. Caos que coloca a população trancada dentro de casa, não apenas pelo medo de sair, mas porque o PCC queimou não sei quantos ônibus. Mais de setenta mortos... Porra!


A coisa está feia. E vêm me falar de Hamas, de terrorismo, dessas coisas que rolam por aqui. Dia desses estava falando com um motorista de táxi e ele me perguntou como é que é esse negócio de que em São Paulo tem assalto a torto e a direito, tem seqüestro, tem corrupção policial. Se falasse com ele hoje e contasse do que o PCC está fazendo, ele não acreditaria, tampouco!

Além das 74 mortes ocorridas desde a última sexta-feira no Estado de São Paulo, os ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) diversificaram alvos nesta madrugada. Pelo menos dez agências bancárias foram atingidas e 61 ônibus incendiados. Isso levou muitas empresas de ônibus a paralisar o trabalho nesta manhã de segunda-feira, complicando o trânsito na capital. (UOL)


Mas pelo menos o rodízio foi suspenso...

[UPDATE] Conta uma brasileira, lá na 'guerra': Acabaram de nos dispensar.../ Todas as empresas parando agora/ Nenhuma faculdade com aula hoje/ Ninguém na rua depois das 20h (apesar de a polícia ter desmentido na TV, todos ficarão em casa)/ Estou com medo.../ Já liguei pra todo mundo, todo mundo indo embora.../ Vôos cancelados, tanto quem vai como quem vem/ E nada isso é oficial, não são os aeroportos que estão fechando. As pessoas estão com medo.

Aqui a confusão é por outras razões...

Para ler mais sobre esse caos, Cafeína, Estadão, CNN, Poder da Palavra, Folha de S. Paulo, Brainstorm#9, Política & Cia., Libardo Buitrago. E, bom... em qualquer site que julgue o hemisfério sul suficientemente importante para ser notícia... Não serão muitos, contudo. Tem fotos também.

domingo, maio 14, 2006

Bilhete de loteria

O telemarketing tem dessas coisas bonitas. Quase duas da manhã aqui em Israel, acabei de entrevistar uma senhoura de 74 anos, espanhola. Eu amo a Espanha e tenho muitas razões* para isso. E, bom, tive que bater papo com a senhoura, porque amo ouvir o sotaque no qual eu aprendi o espanhol há quinze anos...!

Quando perguntei a idade e ela me confessou os setenta e cinco que completa no mesmo dia que a minha mãe, 16 de junho, disse também que está muito velhinha. Eu falei que esse negócio de idade não existe, que está no espírito e tal. Mas ela disse que o corpo já sente os anos. Enfim. Papo de telemarketing.

Mas ela foi tão simpática que eu não pude deixar de agradecer por ter ouvido o sotaque, ao finalizar a entrevista. E ela disse esperar não ter problemas depois de 39 anos morando nos Estados Unidos. Contou que usou o dólar que mandamos para a casa dela para jogar na loteria. Desejei sorte.

Viúva com uma filha, longe do país de origem, que ela tenha um presente de quase 75.

* FYI: o espanhol, o Almodovar, a Karina + Miguel de Cervantes, O albergue espanhol, Don Quixote, Xavier, Madrid, chocolate quente de San Sebastián, Toledo e muitas outras

FELIZ ANIVERSÁRIO a vocês, Laura e Jana. Tudo de bom do fundo do meu coração, daqui de Jerusalém para o Rio e para Floripa! A saudade é imensa!

sábado, maio 13, 2006

Quero

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente nem vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente - não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria

quinta-feira, maio 11, 2006

Coisas assim

Passo a tarde inteira com a cara enfiada no travesseiro e num colo francês chorando copiosamente e feito criança. Cada lembrança de uma coisa ruim gera um soluço e mais lágrimas. E aquela impressão de que nada pode ser pior.

Na noite seguinte, uma mensagem de Brasília no celular sugerindo olhar a lua. Na cafeteria do trabalho, umas mulheres que acham a minha cara muito triste e fazem graça pra me fazer sorrir.

De manhã, arrastando a tromba enquanto caminho, o telefone toca querendo saber porque pareço tão triste. Uma amiga que há muito não via, na outra calçada na rua principal de Jerusalém. E chegando em casa um email conta que apareci em um sonho em Florianópolis.

Coisinhas, assim.

domingo, maio 07, 2006

Melhor não comparar

Você se lembra da primeira vez que fez a maioria das coisas que faz hoje em dia? Por exemplo, o primeiro dia do seu trabalho atual, o primeiro beijo na namorada que continua com você, a primeira aula na universidade onde está estudando...

Pensa nesses primeiros momentos. Compare-os com hoje. Com a rotina, com o dissabor, com o quão mecânico virou fazer todas aquelas coisas que, na novidade, pareciam sensacionais (e eram).

Estranho, não é?

Life sucks, definitivamente.

Sexo e... um ovo?

Estou relendo, depois de ter visto o filme, o livro O carteiro e o poeta. Em primeiro lugar, sim, vale a pena. Muito. Tanto o livro como o filme. Mas o que quero dizer é que existe um trecho, que descreve uma cena de amor entre Beatriz González e Mario Jimenez, que deve entrar para a história como uma das mais bonitas narrativas de sexo. Com um ovo como coadjuvante!

Faço questão de publicar aqui. O autor de Ardiente paciencia, o título em espanhol, é Antonio Skármeta. A tradução é de Beatriz Sidou.

Soltando a jarra de vinho e o avental, a menina recolheu um ovo do balcão e foi andando descalça debaixo das luzes dessa noite estrelada até o encontro.

Ao abrir a porta do galpão, soube distinguir por entre as confusas redes o carteiro sentado sobre um banquinho de sapateiro, o rosto colorido pela luz laranja de uma lamparina de querosene. Por sua vez, Mario pôde identificar, convocando a mesma emoção de antes, a precisa minissaia e a apertada blusa daquele primeiro encontro junto à mesa de totó. Como se combinando com a recordação, a garota alçou o oval e frágil ovo e, depois de fechar a porta com um pé, colocou-o perto de seus lábios. Abaixando-o um pouco até seus seios, fê-lo deslizar seguindo o palpitante vulto com os dedos dançarinos, resvalou sobre seu estômago liso, trouxe-o até o ventre, escorreu sobre seu sexo em meio ao triângulo de suas pernas, esquentando-o instantaneamente, e, então, cravou um olhar quente nos olhos de Mario. Este fez uma tentativa para levantar-se, mas a garota o conteve com um gesto. Colocou o ovo sobre a testa, passou-o sobre a superfície acobreada, montou-o sobre o tabique do nariz e, ao chegar nos lábios, enfiou-o na boca, firmando entre os dentes.

Mario, nesse mesmo instante, soube que a ereção sustentada com tanta fidelidade durante meses era uma pequena colina em comparação com a cordilheira que emergia de seu púbis, com o vulcão de uma nada metafórica lava que começava a desenfrear seu sangue, a turvar seu olhar, a transformar até sua saliva em uma espécie de esperma. Beatriz indicou-lhe que se ajoelhasse. Embora o piso fosse de madeira tosca, pareceu-lhe um tapete principesco quando a garota quase levitou até ele e se pôs ao seu lado.

Um gesto de suas mãos ilustrou que ele teria de pôr as suas em forma de cestinha. Se alguma vez obedecer lhe havia parecido intragável, agora só desejava a escravidão. A garota se curvou para trás e o ovo, ínfimo equilibrista, percorreu cada centímetro do pano de sua blusa e da saia até se deixar apanhar pelas mãos de Mario. Levantou os olhos para Beatriz e viu sua língua transformada em labareda entre os dentes, os olhos pertubadoramente decididos, as sobrancelhas na espreita, esperando a iniciativa do rapaz. Mario delicadamente levantou o ovo, como se estivesse a ponto de incubar. Colocou-o sobre o ventre da garota e, com um sorriso de prestigiador, o fez patinar em suas ancas, marcou com ele preguiçosamente a linha das nádegas, enquanto Beatriz, com a boca entreaberta, continuava com o ventre e as cadeiras em pulsações. Quando o ovo completou sua órbita, o jovem o retornou ao arco do ventre, fez a curva nas aberturas dos seios e, levantando-se com ele, infiltou-o pelo pescoço. Beatriz abaixou o queixo e o reteve ali com um sorriso que era mais uma ordem que uma gentileza. E, então, Mario adiantou a boca até o ovo, prendeu-o entre os dentes e, distanciando-se, esperou que ela viesse resgatá-lo de seus lábios com sua própria boca. Ao sentir a carne dela roçar por cima da casca, sua boca deixou que a delícia transbordasse por ele. O primeiro pedaço de pele que ungia era aquele que em seu sonho ela cedia como último bastião de um assédio que era contemplado agora com o lamber a cada um de seus poros, o mais tênue cabelinho de seus braços, a sedosa queda de suas pálpebras, o vertiginoso declive de seu pescoço. Era o tempo da colheita, o amor havia amadurecido espesso e duro em seu esqueleto, as palavras voltavam a suas raízes. Neste momento, pensou ele, este, este momento, este este este este este momento, este este, este momento este. Cerrou os olhos quando ela tirava o ovo com sua boca. Às escuras, cobriu-a pelas costas enquanto em sua mente uma explosão de peixes cintilantes brotava num oceano calmo. Uma imensa luz o banhava e ele teve a verteza de compreender, com sua saliva sobre esta nuca, o que era o infinito. Chegou até o outro flanco de sua amada e mais uma vez prendeu o ovo entre os dentes. E agora, como se ambos estivessem bailando ao compasso de uma música secreta, ela entreabriu o decote de sua blusa e Mario fez o ovo resvalar entre suas tetas. Beatriz desprendeu o cinto, lavantou a asfixiante prenda e o ovo foi arrebentar no chão, enquanto a menina tirou a blusa por cima da cabeça e expôs o dorso dourado pela lâmpada de querosene. Mario abaixou sua apertada minissaia e quando a fragrante vegetação de sua boceta acariciou seu nariz indagador, não teve outra inspiração senão untá-la com a ponta de sua língua. Neste exato momento Beatriz emitiu um nutrido grito de alento, de soluço, de dissipação, de garganta, de música, de febre, que se prolongou por alguns segundos em que seu corpo inteiro tremeu até se desvanecer. Deixou-se resvalar até a madeira do chão, e depois de colocar um dedo de sigilo sobre o lábio que a havia lambido, trouxe-o úmido até o tecido rústico da calça do garoto e, apalpando a grossura de seu pau, disse com voz rouca:

- Você acabou comigo, seu bobo.

Primavera

Chegou a primavera, agora de verdade. Quando eu saí hoje de manhã do trabalho, esperando receber na cara aquele vento frio do amanhecer de Jerusalém, o sopro que veio chegou quente. Ventava, deliciosamente. Chegou a primavera em Jerusalém.

Dá outro gosto.

Então, uma explicação

O 23a idade foi criado quando eu tinha, portanto, 23 anos. Tinha voltado de Israel e meus ideais e minhas idéias giravam em torno de um objetivo: vir para cá. Cá estou e a verdade é que meus ideais e minhas idéias mudaram muito desde então. E embora eu continue publicando - e continuarei publicando - o 23a idade, agora com cara nova, nem tudo na minha vida é o que acontece em Israel. E o negócio é que eu não quero publicar lá coisas que não são relacionadas ao que rola por aqui.
Assim é, se lhe parece. Se me parece.
Por isso, Ato ou efeito.

Um outro blog?

Sim, um outro blog. Já, já vocês (e eu!) vão entender a razão...!